Boletim climático do trimestre maio/junho/julho registra chuvas abaixo da média para o período
O boletim é elaborado pelos professores Sidinei Zwick Radons e Anderson Spohr Nedel, da UFFS – Campus Cerro Largo

Publicado em: 14 de maio de 2021 09h05min / Atualizado em: 14 de maio de 2021 18h05min

Mensalmente, os professores Sidinei Zwick Radons e Anderson Spohr Nedel, da UFFS – Campus Carro Largo, elaboram o boletim climático aplicado à agricultura, que apresenta informações sobre as condições meteorológicas da região. O boletim faz parte do projeto de extensão “Difusão da previsão meteorológica e climática à comunidade regional”

De acordo com os professores, o fenômeno climático La Niña, apesar de estar perdendo intensidade, ainda continua influenciando as condições de tempo sobre o Rio Grande do Sul. Os modelos climáticos têm apresentado uma grande tendência (80%) dessa condição evoluir para a neutralidade climática entre os meses de maio e junho, mantendo essa condição neutra durante o inverno. Nas últimas quatro semanas a temperatura da superfície do mar (TSM) na região central do Oceano Pacífico tropical tem permanecido abaixo da média, porém apresentando diminuição do resfriamento anormal, com anomalias de -0,4ºC (tendendo à normalidade). Sobre o Oceano Atlântico a TSM apresenta leve aquecimento, conforme a Figura 1. 

 

Essas condições oceânicas favorecem a projeção pelos modelos climáticos de precipitações irregulares e ligeiramente abaixo da média para os meses de maio e junho. Para julho, os modelos estimam precipitações mais abaixo da média climatológica. A média de precipitação para a região (considerando a climatologia de precipitação observada na estação do INMET de São Luiz Gonzaga) apresenta para o mês de maio  - 166mm; para junho - 140mm; e julho - 131mm. O Instituto Internacional de Pesquisa para Clima e Sociedade (IRI) prevê um trimestre marcado por precipitações 30 a 40% abaixo da normalidade.

A estimativa dos modelos com relação às temperaturas apresenta para maio temperaturas médias dentro da normalidade; para junho, ligeiramente abaixo da normalidade (até 1ºC) e para julho, ligeiramente acima da normalidade (até 1ºC).

Observando a série histórica de geadas (estação do INMET de São Luiz Gonzaga), pode-se perceber que em períodos de neutralidade climática (o que deve ocorrer entre maio e julho) as geadas na região tendem a iniciar, de maneira geral, após a segunda quinzena do mês de maio (a partir do dia 20). Da mesma forma, em períodos climáticos neutros há probabilidade da ocorrência de geadas até o primeiro decêndio do mês de setembro (dia 10).

A condição meteorológica no trimestre maio-junho-julho, associada ao mês de abril, é determinante para a fase final das lavouras de milho safrinha e também para a implantação dos cultivos de inverno no Rio Grande do Sul. No mês de abril, com o enfraquecimento do fenômeno La Niña, houve grandes diferenças espaciais nas precipitações na região das Missões, ainda com predominância de ocorrência de valores (irregulares) muito abaixo da normal climatológica, que é de 201 mm para esse mês (Figura 2).

 

Em Caibaté, o acumulado de chuva foi de apenas 27% da normal climatológica e, em Cerro Largo, onde mais se registrou chuva, o acumulado atingiu apenas 50% do valor normal. Assim, os valores observados na região podem ser considerados insatisfatórios para as lavouras de milho da região. A condição hídrica do solo apresentou um significativo decréscimo em relação ao mês anterior, provavelmente ocasionando prejuízos ao enchimento de grãos.

As estações meteorológicas da UFFS seguiram registrando valores elevados de temperatura do ar no mês de abril de 2021, chegando à marca dos 36,4 °C em Guarani das Missões (Figura 3). Essa é uma característica do microclimática local, agravada pela condição de La Niña, que, por ainda estar presente e proporcionar períodos secos mais frequentes, pode conduzir a períodos com temperaturas do ar mais elevadas. Os valores mínimos registrados foram mais expressivos do que em abril, sendo 6,1°C a menor temperatura do ar registrada (às 6h do dia 28 ) também em Guarani das Missões.

O prognóstico é de chuva abaixo da normalidade nos meses de maio e junho, diminuindo ainda mais em julho, o que poderá dificultar a implantação dos cultivos de cobertura, pastagens anuais e grãos de inverno, com atenção especial para a canola e o trigo. Ainda, há que se pensar bem no melhor momento para a implantação destas culturas, uma vez que, como já citado, em períodos climáticos neutros há probabilidade da ocorrência de geadas até o primeiro decêndio do mês de setembro (dia 10) e não se descartam geadas até mesmo mais tardias, que podem trazer grandes prejuízos se ocorrerem quando os cereais de inverno estão na fase reprodutiva.

Reitera-se o cuidado especial que os produtores devem dar às condições de umidade nas operações mecanizadas, visando evitar principalmente a compactação do solo. Indica-se manutenção à constante cobertura vegetal do solo, para evitar a ocorrência de erosão. A semeadura de culturas de cobertura na entressafra tem mostrado ser de grande valia. No campo da produção animal, é indicada a atenção especial aos possíveis estresses por frio, especialmente em animais jovens.

É importante a assistência técnica capacitada para a obtenção de produtividades satisfatórias nas lavouras,  recomendando-se que os agricultores mantenham diálogo constante com os profissionais que acompanham o planejamento e a execução de sua produção.

Fonte imagens: NCEP/NOAA, INMET, Grupo Guaramano.