Publicado em: 28 de setembro de 2022 13h09min / Atualizado em: 28 de setembro de 2022 14h09min
Olhar o entorno, perceber problemas, propor soluções. O exercício da cidadania, enfim, é o que quase 200 crianças apresentaram, na tarde de terça-feira (27), como resultado de um trabalho que começou em uma formação continuada a seus professores. Prefeito, vereadores, secretários municipais fizeram parte do público que esteve na escola durante a apresentação.
A Escola de Educação Básica Cleusa Guindani Hunttmann, de Planalto Alegre, recebeu a UFFS – Campus Chapecó para um curso de extensão. O projeto internacional “Nós Propomos!”, coordenado pela Universidade de Lisboa (Portugal), é realizado na UFFS – Campus Chapecó a partir de um acordo de cooperação entre as duas instituições.
A coordenação na UFFS – Campus Chapecó é da professora Adriana Andreis. Ela lembra que a parceria com a escola veio a partir do intermédio da Associação dos Municípios do Oeste de Santa Catarina (Amosc).
A atuação da professora, duas mestrandas e uma já mestra pela UFFS, foi diretamente com os aproximadamente 20 professores da escola. O curso teve por objetivo, segundo a professora, “compreender a dimensão educativa do lugar aportado geograficamente, enquanto percurso formativo ao ensino na escola”. Assim, a ideia foi “ampliar horizontes para a discussão e formação de sujeitos engajados na compreensão e transformação do seu lugar e do mundo”. Isso foi desenvolvido a partir de estratégias de trabalho de campo, prospecção de problemas do lugar e intervenções concretas.
Os encontros de formação com os professores foram feitos presencialmente. A realização das atividades, desde o início da formação até a apresentação dos resultados pelos estudantes da escola, foram de abril a setembro. De acordo com a professora Adriana, o resultado esperado era a “realização de estudos e atividades práticas que contribuirão às aprendizagens dos processos de construção da cidadania territorial”. Para ela, o objetivo se concretizou.
Ela relata que uma das professoras saiu da escola com os alunos para caminhar nas proximidades. Eles perceberam que bem próximo à escola havia uma vala muito grande, que poderia ser um perigo a crianças e animais, por exemplo. O problema foi desenhado pelos alunos e registrado em fotos. Mas a questão não parou por aí: a questão foi levada à câmara de vereadores, buscando a resolução do problema.
Muitas atividades foram realizadas – com passeios públicos, faixas de segurança, questões de meio ambiente – com propostas de intervenções, como a distribuição de panfletos, conversas com as pessoas e enquetes. Tudo isso aliado a conteúdos matemáticos, históricos, geográficos, literários, etc, como produções de gráficos, tabelas, textos.
“Uma proposta que inclusive encantou o prefeito, foi com relação ao parquinho, que está com peças enferrujadas, com fezes de animais, cacos de vidro. Além de desenharem o que encontraram e de relatarem os perigos, convidaram o prefeito para ir à sala de aula conversar com eles. Houve um entendimento do conceito de diálogo, tanto do poder público quanto dos alunos. Ser cidadão é participar, é propor. Mas diálogo não é violência: é conversar e pensar juntos um caminho. Particularmente estou realizada!”, afirma a professora Adriana.
Ela ressalta que a intenção é de que as crianças consigam voltar o olhar a determinadas questões e as articular com os conteúdos de sala de aula. “O diferencial é que os alunos, a partir do diálogo, consigam propor alternativas e realizar movimentos de intervenção para propor mudanças. Enfim, que aprendam o exercício da cidadania”, destaca ela.
Pensa-se, nesse formato, conforme a professora, a formação integral do aluno e a interdisciplinaridade. “O caminho é geográfico; o aporte é geográfico e histórico. Porém, a contribuição avança da geografia em articulação com outras áreas do conhecimento”, frisa ela.
A diretora da escola, Genecir Terezinha Deotti, comenta que ficou surpresa com a repercussão do trabalho para além da escola. “A partir do trabalho dos alunos, algumas atitudes já vêm sendo tomadas, algumas coisas já vêm sendo resolvidas”, relata ela.
E, pensando no futuro das crianças, a diretora fica ainda mais esperançosa. “O trabalho cria consciência principalmente nas crianças, mas também nas famílias. Às vezes, todos enxergam um problema, mas vai passando o tempo e tudo fica igual se não chamamos a atenção para que seja tomada uma atitude. Esperamos que esse trabalho ajude os estudantes a se tornarem cidadãos com mais capacidade para contribuir com a coletividade, de maneira a construir, a melhorar”, pontua ela.
“Agradecemos muito a professora Adriana e equipe. É algo que esperamos das universidades. Reiteramos nosso imenso agradecimento e esperamos poder fazer novas parcerias, outros trabalhos”, finaliza a diretora.
Repercussões do projeto
Conforme a professora Adriana, o trabalho gerou várias publicações de artigos: dois estarão em um e-book (um, inclusive, elaborado por uma das mestrandas com duas professoras da escola); e três apresentações em eventos – um dos quais, em Portugal.
Para ela, a parceria entre universidade e escolas é fundamental. “É o alimento dos cursos de licenciatura da universidade, da formação de professores, das pesquisas que perpassam todo processo da universidade e a escola. A licenciatura só faz sentido se vinculada à escola. Só é efetiva, se feita em diálogo com o outro. Alimento minha docência, minhas pesquisas, por meio desses diálogos. A vida da universidade tem interdependência com a escola; a vida da escola tem interdependência com as pesquisas da universidade. Meu entendimento é de que se universidade e escolas se isolarem, elas se perdem”.
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