Pesquisa investiga potencial de fruto amazônico em doença oftalmológica
A investigação científica, terceira colocada no INSP, vem sendo realizada na UFFS – Campus Chapecó com várias parcerias, visando possíveis benefícios para a população acometida pela degeneração macular relacionada à idade (DMRI)

Publicado em: 19 de dezembro de 2018 14h12min / Atualizado em: 19 de dezembro de 2018 13h12min

Uma curiosidade na cabeça e um fruto amazônico na mão. A pesquisa "Avaliação do perfil oxidativo-inflamatório e do sistema purinérgico em células do epitélio pigmentar da retina expostas ao extrato de Astrocaryum aculeatum" tem um nome longo, é complexa, necessita de muitas explicações para o entendimento dos leigos. Mas, uma questão é inegável: seus resultados podem gerar benefícios para a população.

Terceira colocada no INSP!, a pesquisa investiga se o tucumã – um fruto amazônico – pode trazer algum benefício a pessoas com a doença oftalmológica degeneração macular relacionada à idade (DMRI). A pesquisa vem sendo desenvolvida na UFFS – Campus Chapecó, porém sua história é bem mais ampla: há colaborações do Amazonas, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E aqui destaca-se a importância dos apoios mútuos, da troca de informações, dos auxílios entre pesquisadores – para o bem da ciência.

Como a pesquisa é consequência de uma série de investigações científicas anteriores, fica difícil até saber quando foi seu início. Entretanto, é interessante contextualizar. A professora da UFSM, Ivana Beatrice Mânica da Cruz, orientadora de Beatriz da Silva Rosa Bonadiman no mestrado, pelo Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da UFSM, tem vários projetos, desde 2009, no Amazonas, com frutos amazônicos e suas ações na saúde da população. A partir desses estudos, em 2015 surgiu o interesse em investigar o efeito do guaraná na DMRI, doença que se manifesta com a chegada do envelhecimento e pode levar à perda total da visão.

Durante o período do mestrado na UFSM, Beatriz – graduada em Biomedicina pela UNOESC – atuava no Laboratório de Biogenômica, que conta com uma equipe multiprofissional, com biólogos, nutricionistas, farmacêuticos, enfermeiros e biomédicos. Esses pesquisadores, dentre eles – Audrei Alves, Charles Assman, Francine Cadoná e Grazielle Weis – atuaram diretamente na pesquisa com o guaraná, contribuindo para o desenvolvimento da pesquisa.

Ainda durante o mestrado de Beatriz, iniciaram as colaborações de pesquisa entre a professora Ivana e a professora da UFFS – Campus Chapecó, Margarete Dulce Bagatini. E após o mestrado, Beatriz foi aprovada no doutorado no Programa de Pós-Graduação em Bioquímica da UFSC. Com a aproximação das duas professoras, surgiu a oportunidade da Beatriz ser orientada pela professora Margarete e seguir com o trabalho com frutos amazônicos e a DMRI.

Isso foi possível pois a professora Margarete atua como orientadora no Programa de Pós-Graduação em Bioquímica da UFSC (ela foi convidada pelo programa a ser orientadora e seguiram-se as devidas tramitações em colegiados e conselhos da UFFS e da UFSC). Assim, Beatriz pôde vir para a UFFS – Campus Chapecó para desenvolver a pesquisa, na condição de colaboradora na Instituição.

Assim, a pesquisa com o tucumã está sendo desenvolvida, em grande parte, na UFFS – Campus Chapecó. Beatriz utiliza a mesma metodologia que aplicou na pesquisa do mestrado, com o guaraná, mas, agora, com o tucumã.

Além da Beatriz, a professora é orientadora de mais pós-graduandos e graduandos, dentre os quais, Greicy Kosvoski, bolsista CNPq, responsável pela submissão do vídeo no concurso INSP. Também participam da pesquisa os alunos Helena Basso (bolsista CNPq, acadêmica de Enfermagem), Vitória Marques (voluntária, também acadêmica de Enfermagem) e Richardson Damis (voluntário, estudante de Agronomia) e a técnica em laboratório Filomena Marafon, também doutoranda na UFSC.

Para Greicy, colaborar com o desenvolvimento de todo o projeto, auxiliando desde a revisão bibliográfica, cultivo celular, tratamentos e o desenvolvimento das técnicas, é muito importante para sua formação. “Serei uma enfermeira com experiência além das aulas teóricas e práticas. A pesquisa nos traz muita responsabilidade”.

A pesquisa ainda tem as contribuições, além da professora Ivana, da professora Ariane Zamoner (UFSC), dos médicos oftalmologistas Cláudio do Carmo Chaves e Cláudia Chaves e de profissionais da Fundação Aberta da Terceira Idade (FnaTI), coordenada pelo médico geriatra Euler Estever Ribeiro.

Para a professora Margarete, “a parceria entre as Universidades é de extrema importância para que possamos fazer análises mais complexas e buscar descobrir o mecanismo de ação dos compostos estudados. Não temos na UFFS todos os equipamentos e recursos necessários para a realização das análises, então as universidades parceiras entram na realização dessas análises”.

A Pesquisa

A experiência da professora Ivana na região amazônica gerou várias possibilidades de pesquisa. Segundo uma investigação na população ribeirinha de Maués (AM), população com uma expectativa de vida elevada e uma alimentação com poucos industrializados (baseada em frutas e peixes locais), esses indivíduos apresentam uma melhor qualidade de vida – menos casos de câncer, obesidade, problemas visuais e outras comorbidades – em comparação à média nacional.

O fruto, parecido com um coquinho (assemelha-se a um butiá, porém é maior), é amplamente consumido na região amazônica, no típico X-Caboquinho (pão com raspas de tucumã). Como, segundo Beatriz, há poucos estudos científicos publicados a respeito do tucumã e seus possíveis benefícios à saúde humana, ela resolveu pesquisar o tema no doutorado.

A investigação está sendo realizada no Laboratório  01 do Campus Chapecó, sendo o Laboratório de Cultivo Celular utilizado em período integral e, pontualmente, os laboratórios de Microbiologia (103), Apoio (104),  Bioquímica (105) e Patologia (108).

O primeiro passo foi fazer o extrato do fruto: um processo com produtos químicos para extrair os compostos benéficos do fruto, para poder ser utilizado na pesquisa. Um modelo experimental padronizado está sendo utilizado para simular a doença em laboratório. Células epiteliais da retina (ARPE-19) são tratadas com o extrato do fruto, mimetizando, ou seja, fazendo um paralelo com o que acontece a um indivíduo acometido pela DMRI.

Sobre a DMRI

Dentre as doenças que acometem idosos, a DMRI está entre as mais frequentes. É a principal causa de cegueira na população acima de 55 anos e sua prevalência aumenta com a idade, chegando a afetar até 27,9% da população. Estima-se que 196 milhões de pessoas serão afetadas pela doença até 2020, chegando a atingir 288 milhões no ano de 2040. A perda irreversível da visão é altamente incapacitante em várias áreas, como: físicas, sociais e emocionais dos pacientes, levando a uma necessidade maior da utilização dos recursos de saúde e à alta carga de custo social. A detecção precoce e o tratamento são fundamentais para aumentar a probabilidade de manter a visão boa e funcional. No entanto, apesar do crescimento das opções de tratamento para esta doença, não há terapia curativa disponível no mercado atualmente.