Curso de Filosofia recebe professor da UPF para dialogar com acadêmicos
Para Cláudio Dalbosco, a filosofia “é indispensável para as instituições, para a universidade e para a vida cidadã”

Publicado em: 25 de março de 2019 13h03min / Atualizado em: 25 de março de 2019 13h03min

Na última sexta-feira (22) a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim recebeu o professor Cláudio A. Dalbosco, da Universidade de Passo Fundo (UPF), para dialogar com acadêmicos do curso de Licenciatura em Filosofia. No evento, o docente abordou o tema “Filosofia, Universidade, Educação e Sociedade”.

Dalbosco é graduado em Filosofia pela UPF (1990), especialista em Epistemologia das Ciências Sociais pela UPF (1993), mestre em Filosofia pela PUCRS (1996) e doutor em Filosofia pela Universidade de Kassel (2001), Alemanha. Realizou Pós-Doutorado pelo Núcleo Direito e Democracia (NDD) do Cebrap (2013), em São Paulo.

Professor da UPF desde 1991, atua principalmente nos cursos de Graduação em Filosofia e Pedagogia e no Programa de Pós-Graduação em Educação. Também é pesquisador do CNPq. Atualmente é Coordenador do PPGEDU/UPF e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Filosofia da Educação (SOFIE). Em ensino e pesquisa, tem como foco de interesse a educação e a formação humana, sempre pensadas sob o ponto de vista filosófico.

Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Filosofia da Educação, Dalbosco fez doutorado na Alemanha

Segundo Dalbosco, uma sociedade cada vez mais tecnicista e sem a devida reflexão humanista acarreta na incapacidade do diálogo e da argumentação. “A tendência do mercado e também a tendência política não é de incentivo às humanidades”, aponta. Cenário perfeito para a disseminação da violência e do ódio.

Antes da palestra proferida na UFFS, o professor concedeu uma entrevista na qual apontou esses e outros pormenores. Confira abaixo alguns apontamentos do acadêmico.

- “A filosofia, quando nasce entre os gregos, já vem como um modo de pensamento que objetiva questões mais amplas. Ela já nasce com essa pretensão de universalidade, com o olhar dirigido para o todo e tratando de questões gerais. Devido a isso, a filosofia poderia ser uma âncora indispensável na formação de todas as profissões. Se o profissional tiver um preparo intelectual de forma que possa ver de maneira mais ampla as situações específicas, e também se ele conseguir enxergar diferentes perspectivas do mesmo problema, ele vai adquirir um tipo de inteligência que potencializará o seu melhor a fim de encontrar a melhor solução possível para qualquer questão.”

- “O cenário, não só para os cursos de Filosofia mas para as humanas no geral, não é muito animador. Isso se deve a vários fatores e não é obviamente pelo desinteresse dos alunos. Todo mundo pensa no depois, no ponto de vista profissional. Ninguém vai escolher uma profissão na qual vai se sentir inseguro ou mal remunerado. Tem todo esse problema. A tendência do mercado e também a tendência política não é de incentivo às humanidades.”

Evento aconteceu no Auditório do Bloco B do Campus Erechim (Fotos: Wagner Lenhardt/Ascom-ER)

- “Acredito que não seja só uma tendência brasileira, mas também mundial. Fiz um estudo comparando a universidade alemã e a universidade americana, me apoiando em um filósofo de cada um desses países, e os dois coincidem no mesmo diagnóstico: o desaparecimento das humanidades dentro das universidades. Há a tendência mundial de uma educação cada vez mais mercadológica e tecnicista. Não estamos dizendo que a técnica não é importante, mas a formação especializada precisa vir acompanhada de uma formação humanista. Acho que essa é a reivindicação que se faz.”

- “A violência é sintoma de uma humanidade incapaz de dialogar. Quanto mais nos desenvolvemos tecnicamente, mais incapazes nos tornamos para dialogar. Se as pessoas forem cada vez mais abertas ao diálogo, é óbvio que elas irão, tendencialmente, buscar as soluções de seus problemas mais pelo diálogo do que pela violência, pela agressão. A filosofia, na sua origem, é um esforço de explicação racional das coisas. E nisso está o logos racional discursivo, que é a crença do filósofo de resolver os problemas que se colocam pelo viés do melhor argumento. Por isso é que a presença da filosofia nessa perspectiva é indispensável para as instituições, para a universidade e para a vida cidadã.”