Educação do Campo: as contribuições do tempo universidade e do tempo comunidade
Curso ofertado no Campus Laranjeiras do Sul funciona no regime de alternância

Publicado em: 11 de agosto de 2017 10h08min / Atualizado em: 11 de agosto de 2017 15h08min

Desde 2013, a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) oferta cursos voltados à qualificação da educação no/do campo. No Campus Laranjeiras do Sul, funciona o curso Interdisciplinar em Educação do Campo – Ciências Sociais e Humanas, cujo foco é formar educadores comprometidos com o desenvolvimento educacional, cultural, social e econômico dos povos do campo, para atuação prioritária em escolas do campo nas áreas de Ciências Sociais e Humanas. Atualmente o curso conta com 171 alunos.

A implantação do curso foi resultado de uma proposta elaborada por docentes do Campus que submeteram projeto ao Edital Nº 02/2012 SESU/SETEC/SECADI/MEC – PRONACAMPO, o qual selecionou Instituições Federais de Educação Superior (IFES) para a criação dos novos cursos de Educação do Campo, visando contribuir para a expansão da oferta da Educação Básica nas comunidades rurais e para a superação das desvantagens educacionais históricas sofridas pelas populações do campo.

A proposta curricular da Graduação Interdisciplinar em Educação do Campo – Ciências Sociais e Humanas propõe seu desenvolvimento no chamado regime de alternância e as atividades letivas são desenvolvidas nas dependências do Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação Agroecológica (CEAGRO), localizado em Rio Bonito do Iguaçu, e também no Campus.

A organização do curso se dá em momentos pedagógicos que interagem, chamados de “Tempo Universidade” e “Tempo Comunidade”, envolvendo os acadêmicos em um processo educativo que articula a experiência acadêmica com a experiência de trabalho e vida no seio da comunidade onde vivem.

O curso foi criado tendo como prioridade a garantia da formação inicial de professores em exercício nas escolas do campo que não possuem o Ensino Superior, bem como atender aos alunos oriundos de escolas do campo. Assim, um dos critérios para ingresso no curso é o candidato apresentar carta de indicação expedida por uma escola, associação, cooperativa ou outra forma de movimento social, ligado às questões do campo, com a qual o estudante possua vínculo, e que fará o acompanhamento do aluno no período de “Tempo Comunidade”.

 

Experiências e perspectivas para o futuro

A acadêmica indígena, Jocele Fyga Tomais, oriunda da Aldeia Indígena Rio das Cobras em Nova Laranjeiras-PR, fala que na primeira etapa do curso, teve muitas dificuldades, principalmente no relacionamento com os colegas não indígenas, porque até então ela nunca havia saído da aldeia para conviver com os não indígenas. Sobre a importância do curso, a estudante comenta que antes da Universidade não fazia ideia do que eram os movimentos sociais e que o curso é muito importante nesse sentido, trazendo novos conhecimentos e que, após concluir, ela poderá atuar em sua aldeia e transmitir os conhecimentos para os alunos da Escola do Campo localizada lá.

Para Neide Martins, oriunda do Acampamento Dom Tomás Aquino em Quedas do Iguaçu-PR, “o curso Interdisciplinar em Educação do Campo possibilitou a realização de um sonho, que foi concretizado por ser em alternância. Concluir o curso não é apenas uma realização pessoal, é contribuir com a organização do movimento social que faço parte (MST), é a possibilidade de se engajar na luta da Educação do Campo, incentivando a juventude Sem Terra a ocupar seu espaço nas universidades”.

José Augusto Duarte Gonçalves, oriundo do Assentamento Marcos Freire em Rio Bonito do Iguaçu-PR, diz que o curso é a oportunidade única para um filho de agricultores ter acesso ao Ensino superior. Após o término do curso, José pretende voltar para a comunidade de origem e contribuir com ela. Para Andreia Lima, também oriunda do Assentamento Marcos Freire, “O curso foi de suma importância, pois sou de origem camponesa, mais especificamente de área de assentamento de Reforma Agrária. Vivenciei uma realidade marcada pelo preconceito contra os povos do campo, nas escolas do campo. Nesse sentido, a formação de professores que valorizem e interpretem essa realidade se faz necessário. A alternância veio como método que possibilitou nossa permanência em um curso de nível superior, educação historicamente negada aos povos do campo. Este curso, este projeto de educação deve continuar e deve sim continuar sendo mantido pelo Estado. Educação do Campo, direito nosso e dever do Estado!”.