Comunidade acadêmica do Campus Realeza articula criação do NEABI
O NEABI já está aprovado no âmbito da UFFS, porém cada campus pode consolidar seu próprio núcleo.

Publicado em: 24 de maio de 2019 10h05min / Atualizado em: 24 de maio de 2019 11h05min

Preocupados com as questões étnico-raciais, professores, técnicos e acadêmicos estão mobilizados para oficializar a criação do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas (NEABI) no Campus Realeza. O NEABI já está aprovado no âmbito da UFFS, porém cada campus pode consolidar seu próprio núcleo, a partir da aprovação do Conselho do Campus, é o caso dos campi Chapecó, Erechim e Cerro Largo.

A ideia de fundar o NEABI, em Realeza, surgiu em discussões no ano passado, quando foi realizado um evento alusivo ao Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro. Naquele momento, ocorreram diferentes atividades de valorização e de reflexões sobre a cultura afro-brasileira, assim como da cultura indígena. “No início deste ano, foi criado um grupo de estudos com alunos indígenas. Nas reuniões quinzenais, falávamos sobre as dificuldades enfrentadas por esse público. Com o passar do tempo, também recebemos muitos alunos negros. Dessa realidade, surgiu o movimento de implantação do NEABI-Realeza”, explicou a pedagoga e coordenadora do grupo, Andréia Florêncio Eduardo.

Para a acadêmica de Nutrição, Aline Vieira Trindade, que também participa do grupo, o NEABI será um aspecto importante na produção de conhecimento e conscientização. “Ele será um núcleo de fortalecimento, resistência e empoderamento, um espaço demarcado para dar um basta ao preconceito e trazer uma cultura diferente ao Campus. Além disso, o NEABI pode ajudar a conscientizar não só os acadêmicos, mas a sociedade em geral, já que as atividades construídas serão abertas à comunidade regional também”, destacou.

Acadêmica de Nutrição Aline Vieira Trindade participou das atividades da Semana da Consciência Negra no Campus Realeza, em 2018. (Roberto Jonikaites/UFFS)

Uma dessas primeiras atividades foi realizada no dia 13 de maio, data significativa, pois foi nesse dia que, em 1888, foi assinada a Lei Áurea, documento que extinguiu a escravidão no Brasil. O debate com o diretor do Campus Realeza, Antônio Marcos Myskiw, e o professor do Instituto Federal do Paraná de Capanema Jaci Poli apresentou outro viés da história, abordando que o Estado não preocupou-se em criar políticas para beneficiar as famílias negras libertas, deixando-as abandonadas, o que gerou um processo de exclusão. “Houve, até mesmo, uma tentativa de apagamento da memória negra no país, já que órgãos do governo daquela época ordenaram a queima de documentos oficiais. Outro fato, é que pesquisas que dão conta desse período da história brasileira são muito recentes, surgindo no final da década de 70”, comentou Myskiw.

A questão da exclusão é ainda um tema bastante presente, como aponta a pedagoga Andréia Florêncio Eduardo: “O NEABI representa um espaço de identidade desse público que vive marginalizado na cidade e na universidade. Não são poucos os relatos de situações de preconceito vividos por eles. Situações que levam a problemas psicológicos que culminam com a evasão do curso e marcam a vida desses sujeitos. Além disso, o núcleo de estudos também se apresenta como espaço de reflexão para todos os interessados no passado do nosso país e região quanto a sua formação cultural”, destacou.

Outra proposta que está sendo construída é a realização de estudos sobre a Coleção Feminismos Plurais, organizada pela mestre em Filosofia Política e feminista negra Djamila Ribeiro. A coleção é formada por pequenos livros que abordam aspectos e perspectivas do feminismo, tendo como pilar mulheres negras e indígenas e homens negros como sujeitos políticos. A proposta contará com o apoio do NEABI-Chapecó. “Com isso, pretendemos fazer estudos e debates sobre temas importantes como: o empoderamento negro e o lugar de fala, além de dar visibilidade e representatividade às mulheres negras da nossa região”, explicou a acadêmica Aline Vieira Trindade.

Como o NEABI-Realeza ainda está em processo de construção, quem tiver interesse em participar do grupo pode enviar e-mail para: andreia.eduardo@uffs.edu.br. “Tivemos retorno de alunos da Graduação e Pós-graduação, professores e técnicos para participar do NEABI, porém ainda estamos construindo a formalização do grupo, assim como definindo algumas funções. Todos estão convidados a participar dessa importante ação”, destacou Andréia.