UFFS – Campus Realeza desenvolve modelo matemático para estimar subnotificação de Covid-19
Modelo matemático teve como base um estudo realizado nos Estados Unidos, sendo empregados na equação dados como informações demográficas, taxa de letalidade (óbitos) por faixa etária e tempo.

Publicado em: 01 de junho de 2020 13h06min / Atualizado em: 01 de junho de 2020 13h06min

A falta de mecanismos que possibilitam realizar uma testagem em massa para confirmar casos de Covid-19 foi um dos motivos que levaram a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Realeza a desenvolver um modelo matemático capaz de estimar o número de subnotificação. A equação elaborada é mais uma contribuição do Projeto de Extensão “Covid-19 e suas fronteiras: ações em saúde para o enfrentamento da pandemia”.

O modelo matemático teve como base um estudo realizado nos Estados Unidos, sendo empregados na equação dados como informações demográficas, taxa de letalidade (óbitos) por faixa etária e tempo. Foi proposto um método para corrigir os casos relatados de COVID-19 no Brasil e no Paraná usando dados da Coréia do Sul como referência. Isso porque, até o momento, é o país com uma das mais amplas capacidades de testar indivíduos per capita, realizando mais de 20 mil testes por dia.

Para o Brasil, a cada caso positivo confirmado dez foram subnotificados no dia 26 de maio (UFFS/Ariel Tavares)

 “Importante dizer que alguns outros pesquisadores no Brasil e ao redor do mundo também tiveram essa iniciativa de buscar respostas quanto aos casos de COVID-19 subnotificados. A grande questão é que nosso modelo matemático tentou superar algumas limitações anteriormente apontadas na literatura no estabelecimento dessas estimativas e fomos bem-sucedidos”, afirmou a pesquisadora que coordena a atividade, professora Carla Zanelatto.

Um dos resultados alcançados pela equação mostra que a cada caso positivo confirmado para Covid-19 no Paraná existem nove casos subnotificados. A estimativa tem como base o número de casos e óbitos registrados no estado no dia 26 de maio que, de acordo com o Boletim Epidemiológico na referida data, chegou a 159 óbitos, sendo notificados 3.512 casos da doença. Isso quer dizer que poderiam haver outros 28 mil casos de Covid-19, além dos 3.512 registrados para a data.  Referente ao mesmo período, para o Brasil, a cada caso positivo confirmado dez foram subnotificados. “Importante dizer que trata-se de uma tentativa de modelar e reportar a realidade a partir da consideração de determinados fatores relevantes para observação e análise da doença”, salientou Zanelatto.

O acadêmico do curso de Física, Robison José Santos da Silva, que também contribuiu no estudo, afirma que conforme mais dados são coletados com o passar do tempo, mais os resultados se aproximam da realidade. “É importante deixar claro, estudos que usam taxas que variam com o tempo, como taxa de letalidade, que é o nosso caso, geram resultados que também variam com o passar do tempo, ou seja, os resultados apresentados hoje podem não ser os mesmos que teremos daqui 10 dias”, salientou.

Equação emprega dados como informações demográficas, taxa de letalidade (óbitos) por faixa etária e tempo (UFFS/Ariel Tavares)

A subnotificação de casos de Covid-19 é preocupante, já que não é possível fazer uma testagem em massa, conforme pontua Zanelatto: “a estimativa da contagem real de casos é relevante porque pode contribuir para tomada de decisões de governos e população, no que diz respeito ao estabelecimento de medidas para impedir a propagação da doença, incluindo o isolamento social e, em casos mais severos, o lockdown. Além disso, pode ser empregada para prever as necessidades esperadas de hospitalização e possível abertura de hospital de campanha, sendo importante para sistemas de saúde em todo o mundo”, alertou.

Os pesquisadores ainda devem testar a inclusão de outras variáveis no modelo matemático, por exemplo, a taxa de ocupação hospitalar, antes de uma publicação em revista científica na área de epidemiologia e/ou saúde pública. “Empregar modelos matemáticos e estatísticos na área de saúde não nos torna isentos de apresentar margens de erro. Contudo, nosso modelo pode ser considerado adequado, pois é capaz de prever com razoável precisão o número de casos, sendo uma importante ferramenta no planejamento de sistemas de saúde. Uma das limitações do modelo é que se baseia no pressuposto de que as mortes por COVID-19 na Coréia do Sul, utilizadas nas análises, foram detectadas e notificadas de forma confiável”, detalhou Zanelatto.

Resultados, em 26 de maio, mostram que a cada caso positivo de Covid-19 no Paraná existem nove subnotificados (UFFS/Ariel Tavares)