A Matemática que faz viajar
Mestranda da UFFS – Campus Chapecó é uma das dez professoras de Ensino Médio do Brasil premiadas com medalha de ouro em olimpíada

Publicado em: 10 de abril de 2024 13h04min / Atualizado em: 10 de abril de 2024 13h04min

Uma professora entra na sala para ministrar sua aula. Em algum momento, enquanto estava rapidamente de costas para os alunos, percebe que algo bateu suavemente em sua cabeça. Era um avião de papel: uma atitude que pode ser considerada desrespeito ou uma brincadeira feita por adolescentes.

A professora da Escola de Educação Normal José Bonifácio, de Erechim, Josiéli Fátima Tonin Pagliosa, resolveu não pensar que era nem uma brincadeira, nem um desrespeito. Pegou o “artefato” e propôs análises aos estudantes. Pela Matemática, eles começaram a compreender mais sobre a geometria dos aviõezinhos.

Josi, como é conhecida, é uma professora dinâmica. Com coisas cotidianas, cria suas aulas. Com criatividade, transforma um conteúdo considerado “chato”, em descobertas.

A criatividade e a dinamicidade da Josi, como é chamada, são apenas algumas das qualidades que a levaram a conquistar uma das dez medalhas de ouro na 1ª Olimpíada de Professores de Matemática do Ensino Médio (OPMbr), dentre os aproximadamente 600 participantes de todo o país. Ela é a única medalhista de ouro do Sul do país na olimpíada, promovida por uma equipe de engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), com o apoio dos ministérios da Educação (MEC) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

A professora conta sobre a premiação sorrindo. Mas os olhos brilham, inclusive, quando fala do trabalho diário, quando relata sobre o aprendizado de seus estudantes. E, também, quando comenta sobre sua própria busca por mais conhecimento.

Josi é professora, mas também é estudante. Faz o Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (Profmat) na UFFS – Campus Chapecó. E, segundo ela, os estudos do Profmat contribuíram para que ela conseguisse a aprovação na olimpíada, especialmente na primeira fase, cuja prova foi discursiva e exigiu uma boa capacidade argumentativa, especialmente com relação à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

 “Sou uma professora antes e outra professora depois de iniciar o Profmat. Minha forma de atuar em sala mudou muito: aprofundo mais os conteúdos, faço demonstrações matemáticas. É uma oportunidade única fazer o mestrado em uma universidade pública, excelente, com professores doutores com experiências e vivências incríveis”, ressalta. Para Josi, apesar das dificuldades e da carga horária, geralmente muito grande, os professores “nunca podem parar de estudar. É algo que revoluciona a vida, tanto pessoal quanto profissionalmente”.

No Profmat o clima também foi de alegria pela conquista da mestranda Josi. Ela é considerada "comprometida, participativa e dedicada" pela orientadora, professora Janice Reichert. Conforme Janice, com seu empenho como professora, Josi faz bem aos estudantes. "Eles (os professores) são a inspiração para os alunos. Os alunos percebem quando o professor está motivado, quando busca trazer novas abordagens e isso desperta neles o interesse pelo conteúdo".

A prática de Josi em sala de aula foi algo que também teve um peso importante na OPMbr. Na segunda fase da olimpíada, ela mostrou um pouco do seu trabalho: além de responder sobre os métodos que utiliza, ela apresentou seu canal no YouTube, utilizado com mais intensidade durante a pandemia. Lá, há vídeos próprios e uma curadoria de outros vídeos – tudo para que os estudantes possam compreender mais sobre os assuntos repassados durante as aulas.

A terceira fase da olimpíada foi uma entrevista com o Comitê Acadêmico. Como o próprio site da OPMbr informa, nessa fase foi avaliado “o nível de envolvimento do professor dentro e fora da sala de aula para melhorar o aprendizado”. Assim, Josi conseguiu mostrar que as temáticas da olimpíada fazem parte de seu cotidiano: os aspectos didáticos e humanos do ensino.

Com o resultado da olimpíada, ela conseguirá fazer argumentações ainda mais profundas e contextualizadas – a partir de um contexto bem amplo. Isso porque um dos prêmios é uma viagem à China, para conhecer o sistema educacional daquele país – que, aliás, está entre os melhores do mundo em Matemática no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). A viagem está prevista para o mês de outubro.

A professora conta que há muita expectativa pela viagem. Enquanto isso, está aprimorando o inglês e buscando saber mais sobre a cultura chinesa. “A educação lá tem um sistema muito disciplinador, com um rigor grande, além da valorização do respeito aos professores. A educação é muito valorizada e as crianças aprendem a ler e a escrever antes de ir para a escola. As escolas são todas particulares, mas são pagas pelo governo. O ensino superior não é gratuito, então as famílias colocam como prioridade o trabalho para poder pagar a faculdade aos filhos”.

O resultado, divulgado em uma live no dia 27 de março, gerou uma emoção muito grande, segundo ela. Desde então, foi entrevistada por vários veículos de comunicação, e recebeu, na escola, a visita do governador do RS, Eduardo Leite, que a parabenizou e prestou homenagens à professora.

Depois do retorno da viagem à China, a professora terá outras tarefas – além de matar a saudade dos filhos, de cinco e nove anos. Ela repassará os conhecimentos adquiridos do outro lado do mundo a outros professores, para que eles também possam colocá-los em prática. “O objetivo final é contribuir para melhorar a educação do nosso país”, finaliza ela.