Publicado em: 19 de janeiro de 2021 14h01min / Atualizado em: 20 de janeiro de 2021 09h01min
A pandemia de covid-19 trouxe (e ainda vai trazer) muitas questões de pesquisa. Uma delas, que incluiu idosos e saúde mental, com aspectos neurobiológicos e saúde coletiva, resultou no artigo “Impacto da COVID-19 na Saúde Mental em Idosos: Atualizações Biológicas e Psicológicas”. Produzido por professoras e estudantes da UFFS – Campus Chapecó com parceiros externos, o artigo foi publicado, recentemente, no periódico internacional Molecular Neurobiology, da Editora Springer Nature.
A equipe foi formada pelas estudantes Roberta Eduarda Grolli, Maiqueli Eduarda Dama Mingoti e Amanda Gollo Bertollo, pelas professoras da UFFS – Campus Chapecó Adriana Remião Luzardo e Zuleide Maria Ignácio e pelos professores João Quevedo (Houston, Texas) e Gislaine Zilli Réus (UNESC – Criciúma).
Conforme a professora Adriana, a pandemia impactou fortemente a saúde dos idosos, população vulnerável à covid-19 em face das taxas de mortalidade e presença de comorbidades associadas ao contexto sociocultural e às condições impostas pela pandemia. Segundo ela, pesquisas vêm sendo feitas sobre os desdobramentos indesejáveis da doença sob vários aspectos que somados podem predispor à evolução da doença para casos mais graves quando se trata da população idosa.
As questões de saúde mental nos idosos figuram nesse cenário justamente por suscitar desfechos desfavoráveis, maximizados pelo contexto de estresse que a pandemia propiciou, muitas vezes intensificando uma predisposição biológica a sintomas psiquiátricos. “Todas essas questões fazem parte de um contexto complexo de estímulos intrínsecos e extrínsecos ao idoso, que revelaram a fragilidade em que essas pessoas vivem cotidianamente e que se intensificam em momentos de crise com fatores disparadores que se sobrepõem. Assim, surge o compromisso de sensibilizar a sociedade com orientações em saúde para o cuidado dos idosos, seja em relação à assistência ou mesmo na gestão em serviços de saúde”, temáticas que dizem respeito à saúde coletiva, área principal na qual a professora Adriana atua na UFFS.
E foi nesses pontos que as áreas da saúde se entrelaçaram para o desenvolvimento do artigo. Surgiu, assim, a pergunta: se um idoso já tem algum transtorno psiquiátrico, isso pode agravar a covid-19 e/ou a covid-19 pode piorar ou desencadear um quadro de prejuízo na saúde mental do idoso? Além das condições biológicas e psicológicas interagindo com a covid-19, surgem as questões: quais estratégias podem ser adotadas para prevenir ou amenizar o quadro e melhorar a qualidade da saúde dos idosos? Quais ações a gestão dos serviços precisará tomar para dar conta dessas lacunas?
A professora Zuleide atua há anos com pesquisas na área de Neurociências e Transtornos Neuropsiquiátricos. Paralelamente, já vinha levantando questões e atuando em projetos para entender melhor as relações de saúde mental e covid-19. Assim, a aproximação – embora inovadora – foi natural.
Com os chamados de periódicos científicos para trabalhos relacionados à pandemia, e a partir de interrogações de projetos que vinham sendo desenvolvidos (de extensão e de pesquisas), surgiu a possibilidade da escrita do artigo.
“Os idosos estão vulneráveis à covid-19, tendo em vista os aspectos biológicos do próprio processo de envelhecimento humano, como um aumento na fragilidade do sistema imunológico, além de doenças crônicas cardiovasculares e metabólicas que podem estar presentes. Além disso, o isolamento e as preocupações impostas pela pandemia aumentam os níveis de estresse, influenciando negativamente na saúde mental dos idosos. Para tornar a situação ainda mais complexa, os que já tinham comorbidades acabaram deixando de ir aos serviços de saúde para evitar um possível contágio”, ressalta a professora Adriana.
Com essa demanda de pesquisa, busquei entre os bolsistas de pesquisa, quais estudantes teriam interesse em realizar o trabalho. “Deixamos claro que era necessário acelerar. Os periódicos estão com muitos trabalhos de revisões bibliográficas e queriam resultados inéditos. Nesse sentido, houve um protagonismo das estudantes. Elas foram muito proativas. Nós (professoras) orientamos, revisamos e complementamos, mas o grupo trabalhou muito bem”, ressaltou a professora Zuleide.
As estudantes atuaram juntas, porém somente on-line. Sem poder continuar com as pesquisas em laboratório, elas partiram para a revisão. “Tivemos, inicialmente, o esqueleto com tópicos e a orientação das professoras. Depois, dividimos os tópicos, mas fomos escrevendo e trocando ideias para que o texto tivesse coesão”, comenta Amanda. Ela e Roberta já eram mais experientes em pesquisas (até por estarem em fases mais avançadas do curso). Para Roberta, a pesquisa “contribui muito para a formação, porque pouco se aborda sobre a saúde mental do idoso”, destaca.
Embora ainda não tenha definido se seguirá a carreira acadêmica ou atuará nos serviços (afinal está na metade do curso), Maiqueli ressalta que essa foi uma grande oportunidade. “Quero aproveitar tudo o que a universidade disponibiliza para nós – ensino, pesquisa, extensão, cultura. Projetos como esse trazem uma mudança do olhar, a gente ganha experiência, além de fazerem diferença para ajudar a sociedade futuramente”.
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