Pesquisadores apontam as sobrevivências do golpe 60 anos depois
Contextos atuais são analisados por professores, que explicam a razão pela qual “o passado segue assombrando o Brasil”

Publicado em: 05 de abril de 2024 14h04min / Atualizado em: 05 de abril de 2024 14h04min

Um capítulo de 60 anos atrás, importantíssimo na mesma medida que sombrio da história do Brasil, segue tendo repercussões no país. Lembrar a ditadura militar, trazendo o assunto para discussões a partir de trabalhos desenvolvidos por pesquisadores da UFFS – Campus Chapecó, é o objetivo do evento “Ditadura e suas sobrevivências: o golpe 60 anos depois”.

Aberto às comunidades acadêmica e regional, o evento acontece na terça-feira (9), às 19h, no auditório do Bloco A. A proposição foi do Colegiado do curso de História, em parceria com o Centro Acadêmico e a Sessão Sindical dos Docentes da UFFS (Sinduffs – Andes – SN).

Os professores Vicente Ribeiro, Ricardo Machado e Antonio Miranda falarão sobre pesquisas que vêm realizando: as relações entre o Golpe de 1964 e os eventos de 8 de janeiro de 2023; a censura a livros entre as décadas de 1960 e 1970 e as atuais; e questões sindicais durante os anos do golpe. “A pauta do golpe está muito presente nos últimos anos, o que demonstra que o passado segue assombrando o Brasil”, comenta o professor Machado.

Machado comenta que logo após o golpe, houve a destruição e queima de obras que estavam na Livraria Anita Garibaldi, no Centro de Florianópolis. Também foi censurado e recolhido o livro Madeirópolis, de Italino Peruffo, com denúncias sobra a exploração de madeira no Alto Vale do Itajaí e de trabalhadores. “Havia um medo que a liberdade do leitor ampliasse o repertório intelectual dos sujeitos, portanto atuou-se com autoritarismo”, ressalta o professor.
Segundo ele, a censura a obras também é vista agora, em vários lugares do país (e em outros locais do mundo). “Livros de temáticas diversas, como racismo, feminismo, movimento LGBTQIA+ têm sido cerceados. O interessante, agora, é que também existe o processo contrário, com companhas de visibilidade, dando destaque a livros e autores que sofreram tentativas de censura”.

Já o professor Ribeiro lembra que datas geram um esforço de memória mais amplo. Nesse sentido, é preciso olhar para contextos. Assim, ele trará pontos importantes do momento atual para relacionar o 8 de janeiro com o Golpe de 1964. Por exemplo, um dos aspectos, de acordo com o professor, é a volta de militares ao governo, o que ocorreu inicialmente com Temer, e mais radicalmente no período Bolsonaro.
Ele também explica que os militares impuseram algumas questões na Constituição, abrindo precedentes para o entendimento de que eles seriam fiéis da balança no país. “Assim, sucessivos governos precisam se manter na corda bamba, reféns de acordos do passado”, avalia.

Por fim, o professor Miranda fará um recorte da sua tese, abordando o movimento sindical da categoria de mineiros, em Criciúma, no Sul de SC. “No contexto do golpe, os militares não mexeram na estrutura sindical brasileira (diferente dos movimentos estudantis, por exemplo, muito mais afetados). Porém, em entidades sindicais cujas direções eram contra o golpe, houve a destituição e a intervenção”, finaliza.