Boletim climático: mantém-se a previsão de poucas precipitações na região das Missões
A estimativa é de comportamento das chuvas abaixo do esperado para os próximos três meses.

Publicado em: 14 de fevereiro de 2022 11h02min / Atualizado em: 14 de fevereiro de 2022 17h02min

 O boletim climático do trimestre fevereiro-março-abril (FMA), elaborado pelos professores da UFFS – Campus Cerro Largo Anderson Spohr Nedel e Sidinei Zwick Radons, apresenta a influência do fenômeno La Niña no Oceano Pacífico Equatorial (região do Niño 3.4 apresentou Temperatura da Superfície do Mar  - TSM mais fria que o normal). A TSM do Oceano Atlântico Sul, por outro lado, tem mostrado um aquecimento no litoral sul do Rio Grande do Sul e do Uruguai.

As últimas rodadas dos modelos climáticos mantêm a influência de La Niña para todo o trimestre. Entretanto, esse fenômeno já começa a perder intensidade (com anomalias de TSM, na última semana, entre 0 e -1°C, segundo a Nacional Oceanic Atmospheric Administration - NOAA). Há uma probabilidade de 67% de continuidade do fenômeno também nos meses de março a maio e 51% de chance de entrar em um período de neutralidade térmica (normalidade climática) a partir de junho.

A estimativa é de ocorrerem precipitações ainda distribuídas e irregulares, assim como vem ocorrendo há alguns meses, com o total de precipitações para o trimestre FMA devendo ficar abaixo da normalidade climática. Para fevereiro, os modelos estimam chuvas abaixo da média climatológica (que é 165 mm, com ocorrência de um pouco mais de chuva na segunda metade do mês). Para março, os acumulados de chuva devem ficar ligeiramente abaixo (10-30 mm) do normal na região (que é 140 mm). Para abril, projeta-se menos chuvas que março, esperando-se também volumes abaixo (30-40 mm) do normal (que é 201 mm), considerando como normal para região a média climatológica 1981-2010, da estação meteorológica de São Luiz Gonzaga/INMET.

As precipitações no mês de janeiro ficaram abaixo da média na região missioneira na maioria dos municípios e foram distribuídas de maneira irregular (Figura 1). Entretanto, em alguns lugares da região (bem pontuais e isolados), as precipitações até ocorreram de forma bem expressivas, o que se deve a fatores locais, associados ao calor (formações convectivas localizadas).  

Com relação às temperaturas médias (Figura 2), notou-se que o mês de janeiro foi mais quente que a média (o esperado para o mês é 26°C), com temperaturas ultrapassando os 40°C. Os valores absolutos máximos observados nas estações meteorológicas da UFFS espalhadas pela região registraram recordes, alcançando 45°C e 44°C, nas cidades de Porto Xavier, Roque Gonzales e São Paulo das Missões. O valor mínimo de temperatura registrado foi 14°C, no centro de Cerro Largo.

Os modelos climáticos estimam, de maneira geral, para o trimestre fevereiro, março e abril, um comportamento de temperatura do ar dentro da normalidade, especialmente nos meses de fevereiro e abril, cujos valores máximos devem ficar em torno dos 40°C. Para março, as temperaturas devem ficar um pouco mais baixas que o esperado para o mês. A média das temperaturas na região para fevereiro é 25°C; para março 24°C;  e  para abril 21°C (segundo a climatologia INMET/São Luiz Gonzaga/1981-2010).

Assim, recomenda-se atenção especial dos produtores ao conforto térmico animal (stress térmico por calor), especialmente de bovinos leiteiros, aves e suínos, que são cadeias muito importantes na região. O estresse por temperaturas elevadas pode causar severos prejuízos nessas atividades, impactando a produção diária de leite e o ganho de peso.

A condição meteorológica no trimestre é muito importante para definição da safra dos cultivos de verão, especialmente da cultura da soja no Rio Grande do Sul. No mês de janeiro, a ocorrência de chuvas foi geralmente abaixo da média e mal distribuída, tanto no tempo quanto no espaço (Figura 1). Essas chuvas ocorreram de maneira concentrada em alguns dias, proporcionando graves períodos de estiagem em toda a região. A cultura do milho (safra) apresentou resultados que variaram entre médios a ruins na região. Já o período de estiagem tem dificultado a implantação das lavouras de milho safrinha.

Em relação à cultura da soja, grande parte da produção já foi comprometida, em função do longo período de deficiência hídrica que vem ocorrendo. Nas lavouras semeadas no início do período de semeadura, as perdas já são praticamente totais. A diminuição da intensidade do fenômeno La Niña, ao longo dos próximos meses, parece soar como um sinal de esperança para as lavouras semeadas no final do período e que ainda podem apresentar potencial para algum rendimento, caso se confirme a previsão de retorno das chuvas. Entretanto, mesmo nessas lavouras, as condições para uma safra satisfatória já foram comprometidas.

 Em Cerro Largo, a estação que mais registrou chuva, o acumulado chegou a 223 mm acima da média histórica do mês. Já em São Luiz Gonzaga, foram registrados apenas 91 mm de chuva em todo o mês de janeiro. Assim, fica ainda mais clara a grande variabilidade espacial das chuvas na região.

Recomenda-se que os agricultores mantenham diálogo constante com os profissionais que acompanham o planejamento e a execução de sua produção, visando estabelecer as melhores estratégias para minimizar os impactos de possíveis condições meteorológicas adversas.

 

**O boletim climático e interpretação agronômica faz parte do projeto de extensão "Difusão da Previsão Meteorológica e Climática à Comunidade Regional" da UFFS – Campus Cerro Largo, coordenado pelo professor Anderson Spohr Nedel, com a colaboração do professor Sidinei Zwick Radons.