Publicado em: 27 de agosto de 2024 10h08min / Atualizado em: 27 de agosto de 2024 11h08min
Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental da UFFS - Campus Erechim revelou importantes insights sobre o impacto das espécies exóticas, em especial do gênero Pinus, nas florestas do sul do Brasil. O estudo, conduzido por Ana Clara Botafogo sob orientação do professor Geraldo Ceni Coelho, concentrou-se na Floresta Nacional (Flona) de Chapecó, área de grande relevância ambiental no bioma Mata Atlântica.
As espécies exóticas, como o Pinus, são aquelas que não são nativas da região e que podem se espalhar rapidamente, competindo com a flora local e dificultando a regeneração das florestas nativas. A pesquisa analisou três áreas distintas dentro da Flona: uma onde o Pinus foi removido há dez anos e a floresta está em processo de regeneração (REG), uma floresta nativa que não sofreu perturbações significativas nos últimos 60 anos (NAT), e uma área onde o Pinus ainda está plantado (PIN).
A investigação demonstrou que, na área em regeneração (REG), a supressão do Pinus permitiu que a floresta recuperasse uma diversidade de árvores grandes semelhante à da floresta nativa. Contudo, a diversidade de árvores menores ainda é baixa, o que pode comprometer a regeneração completa da floresta a longo prazo. Já na área com Pinus (PIN), foi observada uma alta densidade da espécie tanto entre as árvores grandes quanto entre as pequenas, com poucas árvores nativas surgindo, o que reforça a necessidade de manejo contínuo.
Além disso, a pesquisa testou uma técnica de restauração que envolve a transferência de folhas e solo de uma área para outra. O estudo mostrou que essa abordagem não foi muito eficaz na área em regeneração, pois não resultou em uma germinação significativa de espécies nativas.
Na foto 1, da área de Pinus, as árvores têm espaçamento uniforme, uma vez que foram plantadas para a exploração madeireira. Esse ambiente apresenta uma entrada maior de luz em comparação com os outros estudados, fazendo com que algumas espécies possam se desenvolver no sub-bosque. Na foto 2, na área natural, o ambiente está sombreado, devido a diferentes espécies que possuem copas de diversos tamanhos, e que aumentam a área sombreada, fazendo com que apenas espécies tolerantes à sombra possam se desenvolver. A foto 3 é na área em regeneração, com uma clareira, comum nesses ambientes perturbados. Essas clareiras podem ser benéficas para espécies nativas iniciais, porém, podem também ajudar na sobrevivência das lianas que sombreiam o estrato inferior e impedem o estabelecimento de algumas espécies importantes para a regeneração.
Ana Clara explica que a escolha de investigar o Pinus na Flona de Chapecó foi estratégica devido à necessidade de regenerar áreas impactadas por plantações comerciais de espécies exóticas e restabelecer serviços ecossistêmicos relacionados à vegetação nativa. “A supressão das espécies exóticas é crucial para abrir espaço para que as espécies nativas tenham condições de regenerar e reconquistar áreas degradadas”, destaca.
Ela também aponta os desafios enfrentados na conversão de áreas dominadas por Pinus em florestas nativas, como a competição agressiva das espécies exóticas por recursos e a redução da riqueza de espécies causada pela monocultura. A baixa diversidade de espécies no estrato inferior das áreas em regeneração e na floresta nativa também foi destacada como um fator que pode afetar o futuro dessas florestas.
Quanto às ações recomendadas para melhorar o recrutamento de espécies nativas, Ana Clara sugere o manejo de lianas, plantas que podem restringir a entrada de luz necessária para o crescimento de novas espécies. Ela alerta ainda sobre os riscos de não realizar intervenções adicionais em áreas de Pinus, como a perda de biodiversidade e de serviços ecossistêmicos.
Conservação e restauração
O estudo desenvolvido na UFFS pode influenciar as políticas de manejo e conservação de florestas. Conforme a pesquisadora, “os resultados obtidos são base para o planejamento da restauração florestal em áreas degradadas, uma vez que o restabelecimento da floresta nativa traz benefícios ambientais valiosos e novas perspectivas de uso sustentável dos recursos ali presentes”.
A pesquisa é importante também para a comunidade científica e para a sociedade em geral, especialmente em relação à conservação da biodiversidade. “A conservação de recursos naturais é um tópico atual e global. É necessária a cooperação de pesquisadores e integração de informações para um melhor entendimento do assunto. A sociedade geral se beneficia dessa e de outras pesquisas por meio da aplicação dos resultados em forma de políticas públicas, com foco em tornar a qualidade de vida melhor por meio da conservação ambiental”, finaliza Ana Clara.
A pesquisa pode ser acessada, na íntegra, no Repositório Digital da UFFS: https://rd.uffs.edu.br/handle/prefix/7718.
*Fotos: Acervo pessoal/Ana Clara Botafogo.
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