Pesquisa identifica 7 espécies de frutas nativas prioritárias para domesticação no Território da Cantuquiriguaçu e Paraná Centro
Participaram da pesquisa 117 agricultores de grupos inseridos no Núcleo Luta Camponesa, vinculado à Rede Ecovida de Agroecologia

Publicado em: 17 de junho de 2019 09h06min / Atualizado em: 17 de junho de 2019 15h06min

A biodiversidade do Brasil é considerada a maior do mundo e é resultado de um processo milenar que envolve fatores ambientais e sociais. Porém, esse processo de evolução vem sendo comprometido pelo avanço de um modelo de globalização hegemônico.

Nesse sentido, buscando analisar os impactos no âmbito das frutas nativas, o aluno Rodrigo Ozelame da Silva, sob orientação do professor Julian Perez Cassarino e do pesquisador do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) Walter Stenboock, desenvolveu sua pesquisa intitulada “Frutas nativas, domesticação de plantas e agroecologia: por uma outra relação com a sociobiodiversidade” no Programa de Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, da UFFS – Campus Laranjeiras do Sul.

Na contramão dessa globalização hegemônica existem outros modelos, nos quais se inserem com importância as frutas nativas, sendo valorizadas, cuidadas e promovidas. É nesse contexto que se desenvolve a pesquisa, na busca pelo resgate e promoção de um processo de domesticação de plantas, com ênfase nas frutas nativas, através dos princípios da Agroecologia, que contribui para a expansão da sociobiodiversidade.

A domesticação de plantas ocorre a partir de um processo coevolucionário onde o homem, consciente e inconscientemente, através da seleção de fenótipos de populações de plantas promovidas, manejadas ou cultivadas, promove mudanças nos genótipos das populações que as tornam mais úteis aos humanos e melhor adaptadas às intervenções humanas no ambiente. Uma característica central na domesticação de plantas é que não é um processo homogêneo, pois se sua emergência ocorre de forma coevolutiva entre elementos sociais e ambientais, cada espaço e tempo gera e gestiona seu caminho de domesticação.

O público da pesquisa foi constituído por 117 pessoas de seis grupos de agricultores inseridos no Núcleo Luta Camponesa, vinculado na Rede Ecovida de Agroecologia. Esse núcleo está situado nos Territórios da Cidadania, do Estado do Paraná, Cantuquiriguaçu e Paraná Centro.

Durante o desenvolvimento da pesquisa, identificou-se sete espécies de frutas nativas classificadas como prioritárias pelos agricultores para a promoção de um processo de domesticação, sendo elas: i) guabiroba (Campomanesia xanthocarpa); ii) pitanga (Eugenia uniflora); iii) uvaia (Eugenia pyriformis); iv) cereja (Eugenia involucrata); v) guabiju, (Myrcianthes pungens); vi) araçá-vermelho (Psidium longipetiolatum); vii) ingá feijão (Inga marginataWilld).

Além da caracterização e identificação das espécies de frutas nativas, descreveu-se os aspectos sociais e ambientas desejáveis em boas matrizes. Por meio desse processo, foram identificadas e georreferenciadas 42 matrizes, sendo 15 de guabiroba, 8 de pitanga, 8 de uvaia, 3 de cereja, 4 de araçá-vermelho, 1 de guabiju e 3 de ingá feijão.

O pesquisador destaca que o principal resultado deste trabalho foi, em conjunto com os agricultores, resgatar e promover olhares para as frutas nativas, contribuindo desse modo para a emergência de um modo de domesticação de plantas que aumente a sociobiodiversidade, por meio da Agroecologia e articulado com ações práticas que envolvam a comercialização, regularização sanitária e processamento, visando valorizar as frutas nativas.

Também destaca que olhar, plantar, produzir, processar, comercializar e consumir as frutas nativas é dar materialidade à construção de outros mundos, que supera a racionalidade do modelo hegemônico de agricultura e gera indicativos para a construção de uma nova mentalidade na relação dos agricultores com a sociobiodiversidade.

Confira a pesquisa na íntegra aqui.

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