Pesquisa aborda o Ensino Médio noturno do ponto de vista de estudantes, professores e gestores
Com análises feitas, o momento agora é de apresentação dos dados

Publicado em: 27 de abril de 2018 17h04min / Atualizado em: 27 de abril de 2018 17h04min

Uma pesquisa com 103 professores, 37 gestores e 1913 estudantes de Chapecó trouxe respostas sobre as dificuldades, as potencialidades e necessidades de estudo sobre o Ensino Médio noturno em Chapecó. O trabalho foi coordenado pela professora da UFFS – Campus Chapecó, Adriana Andreis, com a colaboração dos também docentes da UFFS – Campus Chapecó, Willian Simões e Darlan Kroth, da mestranda em Educação da UFFS – Campus Chapecó, Roseclei Petry e com a contribuição das mestrandas em Educação da Unochapecó, Aline dos Santos e Mônica Tessaro.

As entrevistas da pesquisa “O Ensino Médio Noturno em Chapecó (SC): Fatores de Influência nos Índices de Evasão e Reprovação” foram realizadas online, sem identificação das pessoas, em 2016. Perguntas específicas foram feitas para estudantes, professores e gestores.

Os dados foram compilados e, agora, o grupo aguarda para repassá-los, junto com a análise e discussão, à Gerência Regional de Educação (Gered). A programação, conforme a professora Adriana, é disponibilizará as informações específicas sobre cada escola, em rodas de conversa com o grupo, apresentando e debatendo os resultados da pesquisa.

Segundo a professora, o resultado foi bastante parecido com resultados de pesquisas aplicadas em outros locais do país. “A pesquisa teve caráter de legitimação aqui. Esses dados se encontram com dados de outros locais do país. Aponta essa clareza de que o trabalho representa uma questão que precisa ser central”, avalia. E reforça outro ponto essencial: “nesse momento, sem o Ensino Médio noturno, 50% dos estudantes não seguiriam estudando”.

Estudantes

Alguns dados e informações importantes extraídos da pesquisa:

  • Há uma distorção da idade com relação à série. Isso é mais representativo, conforme a professora, especialmente no primeiro ano.
  • A maioria dos alunos escolhe a escola pela proximidade de onde mora. “Entendemos que quando é tirada a possibilidade de escolha do estudante, quando não há mais o oferecimento do Ensino Médio noturno na escola próxima ao estudante, é como tirar dele a perspectiva do estudo. Então (esse dado) mostra a importância de manter as escolas com Ensino Médio noturno onde elas estão. O aluno que está lá é porque está perto da casa dele, se não, não iria. Esse é um indicativo importante”, revela a professora.
  • 15% dos estudantes moram acima de três quilômetros da escola. 58% moram até um quilômetro longe da escola.
  • 64% dos estudantes vão a pé para a escola. Conforme a professora, esse é mais um dado que reforça: “se tiro a escola do local onde está, ele não vai mais”.
  • 72% dos estudantes trabalham fora, e esse é o motivo mais apontado para estudarem à noite.
  • 96% dizem ser imprescindível ter Ensino Médio noturno.
  • 70% exerce trabalho remunerado, ou seja, é trabalhador que estuda à noite.
  • 65% têm renda familiar de até três salários-mínimos.
  • 59% afirma nunca ter reprovado. Segundo a professora, o resultado vai contra o senso comum.
  • Cerca de 50% dos estudantes afirmam que dedicam algum tempo extra para estudo em casa.
  • Dos alunos que pararam de estudar por algum motivo, a evasão tem causas muito diversas: não há uma causa majoritária. “São questões muito individualizadas e diversificadas, e muito relacionadas ao contexto singular de cada um, que fica até difícil de tomar uma estratégia mais abrangente. Os mais apontados são: escolha própria, familiar e trabalho”, ressalta a professora Adriana.
  • 85% reprovou até uma vez.
  • Os estudantes falaram que o que mais gostam no ensino, na Educação Básica: 34% - das boas relações com os professores; 30% - dos conteúdos aprendidos. “O que também se contrapõe ao senso comum”, afirma a professora.
  • Do que os estudantes menos gostam: do pouco uso de diferentes recursos e tecnologias pelos professores (39%).
  • Sobre as disciplinas que mais ou menos se identificam, a professora destacou que “algo que nos surpreendeu é que essa identificação é muito relacionada com o modo que o professor conduz aquela disciplina. Notamos pelo fato de que, mesmo não sabendo que turma ou a escola era, pegamos os resultados na sequência, e várias turmas praticamente inteiras gostando da mesma disciplina. É muito personalizada a relação com o modo com que o professor trata. Não é uma ou outra disciplina que eles gostam ou não, mas trata-se da relação que o professor tem com o aluno naquela interlocução”. Em relação às disciplinas que os estudantes menos gostam, 63% concentram-se em português, matemática, física e química. “É flagrante a indicação de disciplinas consideradas difíceis pelos alunos, contudo, é importante considerar que a identificação ou não com uma disciplina precisa ser olhada com atenção, pois pode denotar uma expressão provisória e bastante personalizada”.

Professores

  • Sobre a experiência: 57% têm mais de seis anos de atuação; 78% têm mais de três anos de experiência.
  • 17% moram a menos de 500 metros da escola.
  • 63% dá aula nos três turnos.
  • 47% ministram entre 30 e 40 horas/aula semanais.
  • Sobre o regime de trabalho: em geral, conforme a docente, os professores dizem ser muito relativa a questão de ser efetivo ou não. “O efetivo, por um lado, se dedica mais; o temporário não consegue criar uma identificação. Por outro lado, o fato de ter muitos temporários, gera um paradoxo – do excesso de autoconfiança pelos efetivos”. 
  • 83% dos professores acreditam que o aluno estuda de noite porque trabalha de dia.
  • Só 6% dizem que é a mesma coisa dar aula no matutino e no noturno. Para quem acredita ser diferente, os motivos mais citados foram: 1) porque os alunos trabalham; 2) porque a escola é outra à noite; 3) porque todos estamos mais cansados.
  • Sobre características dos estudantes, os professores consideram mais marcante: 45% - serem trabalhadores; 43% - serem desinteressados.
  • A maior fragilidade dos alunos, no ponto de vista dos professores: 52% - atenção e concentração dos alunos; 16% - conhecimentos, conteúdos e conceitos; 32% - frequência.
  • Os professores consideram mais fácil: 40% - envolver os alunos.
  • Por outro lado, os professores consideram mais difícil: 44% - envolver os alunos e avançar nos conteúdos.
  • Os professores consideram que os estudantes que desistem: 54% - priorizam o trabalho.

Gestores

  •  São formados em diferentes graduações.
  • 80% são mulheres.
  • 48% dos gestores são formados na área de linguagens; 22% em Pedagogia.
  • São de três cargos: Gestor, Assessor de Direção e Assistente técnico-pedagógico.
  • Com relação à experiência: 36% mais de seis anos de experiência como gestor; 36% mais de três anos; 17% mais de um ano.
  • Os gestores consideram que atender o Ensino Médio noturno é: 13% atender como qualquer outro turno. Os que consideram diferente, apontam os mais diferentes motivos.
  • Os gestores apontam o que é mais fácil na gestão do EM noturno: 27% - dialogar com os alunos.
  • O que eles consideram mais difícil: 21% - controlar entradas, saídas e frequência; 15% - Gerenciar conflitos; 15% - Envolver os professores; 15% - Relacionar-se com os familiares dos alunos.
  • Em relação à organização dos professores, eles consideram que podem: 45% - planejar melhor as aulas; 30% - ser mais atenciosos e compreensivos com os alunos.
  • Os gestores apontam que é indiferente os professores serem temporários ou efetivos.
  • A maioria se considera um gestor democrático.
  • Motivos para reprovação do ponto de vista dos gestores: 50% - porque alunos trabalham.
  • Motivos para evasão para os gestores: 40% - porque trabalham; 35% - por serem displicentes.
  • Razões pelas quais os gestores acreditam que as alunos estudam à noite: 75% - porque trabalham durante o dia.
  • Dos 37 gestores que responderam à pesquisa, seis consideram não importante ter ensino Médio à noite.


Questões importantes a partir dos dados

A partir dos estudos dos dados, o grupo chegou a alguns pontos de reflexão e enfrentamento. “(A pesquisa) apontou os entendimentos da dimensão singular, o gosto pelas escolas e necessidade dos reconhecimentos espaço e tempo dessa escola, que é diferente, e tudo relacionado à especificidade dos trabalhos dos alunos”, destaca Adriana.

Outra questão é a “tendência de estranhamento das questões e culpabilização dos outros para a evasão e reprovação”. Ainda há, segundo a professora, a necessidade de formação continuada dos professores, com envolvimento também dos estudantes e gestores.

É essencial, também, de acordo com as discussões, levar em consideração a especificidade da escola, entender o Projeto Político Pedagógico (PPP), fazer planejamentos específicos para as escolas com Ensino Médio noturno e para as aulas dos alunos trabalhadores (que têm uma rotina diferente), dentre outros pontos.

Os resultados são usados por dois mestrandos para suas pesquisas. Do grupo que atuou, os pesquisadores estão utilizando os dados para interlocução em seus trabalhos, os professores Adriana e Willian estão construindo uma produção e a professora Adriana ainda utilizará o resultado em uma fala na Rede Latino Americana de Didática em Geografia, em junho, em Goiânia.