Engenharia sustentável ganha força com publicação de pesquisadores da UFFS
Livro detalha tecnologias para a valorização de resíduos industriais a partir de pesquisas da UFFS e de outras instituições

Publicado em: 19 de junho de 2024 11h06min / Atualizado em: 19 de junho de 2024 11h06min

Pesquisadores da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) Campus Erechim, em parceria com outras instituições, acabam de publicar um livro que aborda questões cruciais sobre a valorização de resíduos e a estabilização de diferentes geomateriais, apresentando estratégias inovadoras para a prática da engenharia sustentável. A obra, intitulada “Environmental Geotechnics - Waste and Geotechnical Stabilization”, foi publicada em inglês pela editora Nova Science Publisher para alcançar a comunidade científica global. Os organizadores são Eduardo Pavan Korf, Pedro Domingos Marques Prietto, Caroline Müller e Suéllen Tonatto Ferrazzo. Entre os autores dos capítulos estão alunos do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental (PPGCTA) e do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFFS.

A publicação representa um marco significativo para a Universidade e reforça o seu compromisso com a inovação e a sustentabilidade na engenharia. O livro chega em um momento em que o planeta enfrenta desafios ambientais urgentes, uma vez que a valorização de resíduos industriais é vista como uma forma de minimizar os danos ao meio ambiente. Segundo o professor Eduardo Pavan Korf, essa valorização enfrenta inúmeros desafios, principalmente pela carência de tecnologias adequadas e viáveis para transformar resíduos em matéria-prima para novos materiais. “O livro apresenta diversas oportunidades para utilizar resíduos em várias aplicações na engenharia, especialmente na geotecnia”, destaca Korf. Ele menciona também a importância de desenvolver a temática abordada sobre processos de produção de cimento alcalino, produzido a partir de resíduos, um substituto sustentável ao cimento Portland tradicional.

Obra foi publicada em inglês pela editora Nova Science Publisher

Dividido em 11 capítulos, o livro explora práticas como a produção de cimentos alternativos utilizando diferentes resíduos como matéria-prima. “Há capítulos dedicados aos tipos de processos para produção de cimento alcalino, com estudos conduzidos por pesquisadores da UFFS e de outras universidades no Brasil e no mundo, como um capítulo escrito por uma pesquisadora da Finlândia”, comenta Korf. Outro destaque é o uso de resíduos para a estabilização de solos, essencial para a construção de bases de pavimentos asfálticos e aterros com vista a viabilizar construções estáveis.

Embora o Brasil ainda careça de estudos abrangentes na área de valorização de resíduos, o professor Korf acredita que os pesquisadores da UFFS, que atuam nessa temática, estão em pé de igualdade com os principais grupos de pesquisa internacionais. “Nosso nível de pesquisa está muito próximo ao que se faz fora do país, especialmente na área de cimentação alcalina. Temos parcerias valiosas e trocamos metodologias com pesquisadores de todo o mundo”, afirma.

Engenharia sustentável: ambiental, econômica e social

O uso de resíduos como matéria-prima traz benefícios ambientais significativos, reduzindo a necessidade de extração de recursos naturais e diminuindo as emissões de CO2 associadas à produção de cimento. “Essa abordagem está alinhada com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, promovendo a sustentabilidade ambiental, econômica e social”, explica Korf. Além disso, a incorporação de resíduos na cadeia produtiva pode reduzir custos com a disposição dos mesmos pelas indústrias e gerar novos materiais menos nocivos ao meio ambiente, beneficiando a sociedade como um todo.

A aplicação dessas tecnologias já está em andamento. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), parceira da UFFS, possui colaborações com diversas mineradoras no Brasil. Algumas delas já estão utilizando cimentos álcali-ativados para disposição de rejeitos de forma segura e sustentável. Na região do Alto Uruguai gaúcho, indústrias já incorporam resíduos em materiais de construção, tais como cerâmica e blocos de concreto, demonstrando o potencial econômico dessas soluções também a nível regional.

Pesquisas incluem alunos desde a graduação

Os alunos da UFFS, tanto da graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária quanto do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental (PPGCTA), estão ativamente envolvidos nas pesquisas. “Temos vários alunos trabalhando em projetos de iniciação científica e mestrado, contribuindo em capítulos do livro e artigos e participando de estudos aplicados”, destaca Korf, que pontua que a colaboração entre estudantes fortalece a produção científica e a formação de novos profissionais comprometidos com a sustentabilidade.

Maria Alice Piovesan é uma das autoras de um capítulo do livro (Foto: Wagner Lenhardt/Divulgação/UFFS)

Estudante da 9ª fase de Engenharia Ambiental e Sanitária, Maria Alice Piovesan é uma das autoras de um capítulo do livro. Ela faz parte do grupo de pesquisa coordenado por Korf. “Comecei como voluntária ainda na 4ª fase do curso e hoje sou bolsista”, conta. A acadêmica já colaborou em vários estudos e artigos, inclusive da pós-graduação. Em seu TCC, pretende trabalhar com rejeito de mineração de zinco. “Gosto bastante do laboratório. Pra mim é uma das melhores partes da universidade, quando a gente coloca a mão na massa”, complementa a futura engenheira, que já considera a pesquisa como um possível campo de trabalho para depois de formada.

Muitas das pesquisas presentes no livro foram desenvolvidas nos laboratórios da UFFS – Campus Erechim, que são equipados com tecnologias de ponta, permitindo análises precisas e aprofundadas de contaminantes ambientais. “Nossa estrutura de excelência nos diferencia, possibilitando estudos completos sobre lixiviação e encapsulamento de contaminantes e a viabilidade dos novos materiais produzidos a partir de resíduos”, enfatiza Korf. Um dos equipamentos mais destacados é o ICP-OES, um espectrômetro de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado. “É um equipamento muito caro, demanda uma proteção grande e não é qualquer pessoa que opera. Isso é um diferencial da UFFS, pois o equipamento colabora com as pesquisas e pode trazer respostas que são escassas na comunidade científica”, conclui o professor.

A publicação deste livro reforça o papel da UFFS na vanguarda da pesquisa em engenharia sustentável, promovendo práticas que beneficiam tanto o meio ambiente quanto a sociedade. Acesse a obra em https://doi.org/10.52305/ZICV4558.